Remédio para emagrecer aumenta risco de glaucoma entre mulheres

08/11/2009 10:35

O uso dos inibidores de apetite – drogas para o combate à obesidade – pode provocar, além dos já conhecidos efeitos colaterais sobre o sistema nervoso central e cardiovascular, um aumento no risco de as mulheres desenvolverem glaucoma – doença marcada pelo aumento da pressão intraocular, podendo levar à cegueira –, segundo especialistas. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, a dilatação da pupila provocada por inibidores de apetite aumenta a chance de surgir o glaucoma primário de ângulo fechado.

O mais preocupante, segundo o especialista, é que mais 43% dos brasileiros em idade adulta estão acima do peso, fazendo com que o País desponte como o terceiro maior consumidor de inibidores de apetite. E a população feminina responde por 92% deste consumo, segundo um levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, o que as deixa sob maior risco de ter o glaucoma de ângulo fechado.

Com incidência de cegueira duas vezes maior que o glaucoma primário e ângulo aberto, a doença é mais comum entre mulheres, asiáticos, idosos e portadores de hipermetropia (dificuldade de enxergar de perto). Isso porque, nestes grupos, a câmara anterior dos olhos pode ter menor profundidade e a dilatação da pupila induz ao fechamento do ângulo iridocorneano (entre a íris e a córnea), levando ao aumento súbito da pressão intraocular. 

Queiroz Neto afirma que a evolução do glaucoma é rápida e, apesar de os casos relacionados ao uso de inibidores de apetite serem pouco frequentes, deve ser feita uma avaliação completa da câmara anterior antes da ingestão deste tipo de medicamento. Isso porque a identificação e tratamento do fechamento angular iridocorneano previne a evolução da doença. A avaliação é feita com a utilização do OCT, tecnologia similar ao ultrassom, que permite a obtenção de imagens de toda a câmara anterior em duas dimensões. 

Quem sofre da doença só percebe a alteração ocular em crises agudas cujos sinais são: dor intensa no globo ocular e região periocular; diminuição acentuada da acuidade visual; halos coloridos ao redor das lâmpadas; náuseas e vômitos. E esta crise é marcada pela elevação acentuada da pressão intraocular, perda súbita da visão, morte de células do cristalino, escavação do disco óptico, congestão venosa e hemorragia, que reduzem permanentemente a visão. Segundo o oftalmologista, trata-se de uma emergência médica, e o tratamento clínico imediato é feito com colírios que induzem à constrição pupilar, betabloqueadores para diminuir a produção do humor aquoso, e corticoide tópico que reduz a reação inflamatória aguda.

Além dos inibidores de apetite, remédios usados no tratamento de gripes e resfriados que contêm atropina também podem induzir a crises agudas desse tipo de glaucoma. Por isso, a agência reguladora de medicamentos dos EUA exige que toda medicação que induza à dilatação da pupila contenha uma advertência na embalagem. O risco de complicações só existe entre pessoas com ângulo estreito da câmara ocular que não recebem tratamento adequado. "O brasileiro ainda acredita que o consumo de medicamentos é o caminho mais fácil para ter boa saúde, mas em muitos casos pode significar o surgimento de doenças que comprometem a qualidade de vida", conclui o especialista. 

Extraído de https://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=188448

Voltar